Ainda não tinha amanhecido
E ele já havia acordado
Assustado, sonolento e perdido
Em meio a um despertador ao lado
Deu mais ou menos dez passos
No guarda-roupas, pegou duas peças
E embolou por sobre os seus braços
Desceu os degraus da escada às pressas
Com a sua coragem, ele entrou no banheiro
Mergulhando o corpo numa água fria
Depois se arrumou, contou dinheiro
E como era comum todo santo dia
Já não tinha tempo nem para o café
Correu quase que loucamente
Por vários metros numa direção qualquer
Em busca do seu ônibus tão cheio de gente
Tão cara a passagem... e de repente
De tão longa a viagem, ele dorme
Ali mesmo, exprimido num banco mal cheiroso
Engarrafamentos, semáforos... paciência enorme
Que tem na sua via crucis de homem honroso
A essa altura, olha o relógio no pulso:
Ele sabe que está atrasado demais!
As buzinas torturam ouvidos... e num impulso
Ele se levanta e puxa a cigarra lá atrás
Já perto da porta de saída
E desce... atravessa a rua sem ver
Com medo da demissão, arrisca a vida
Entre carros e dúvidas, ele consegue sobreviver.